Este ano comemoramos os 80 anos do Chaplin Club, primeiro cineclube formalmente constituído no Brasil. Mas o significado do cineclubismo para o cinema no Brasil, para o cinema brasileiro, para a cultura e para o público vem de antes e vai muito além desse período.
O cineclubismo constitui uma matriz fundadora do cinema. Vai na mão contrária à do cinema comercial, cujo norte é unicamente o lucro e, em que pese ter criado fatos, eventos, astros e filmes memoráveis, volta-se para a repetição das fórmulas, para a manutenção do estabelecido e, pior, para a dominação dos mercados – e portanto para o sufocamento das expressões culturais diversas ou autônomas, em que o público é platéia inerme e burra, consumidor, objeto. Sob seu reinado, implantou-se um cinema monolíngue, monocórdico, unilateral e excludente.
Já o cineclubismo, que se define por justamente não visar o lucro, foi a inspiração e a origem das mais importantes instituições do cinema e do audiovisual: nos cineclubes nasceu a crítica cinematográfica e uma imprensa de debate, dos cineclubes derivam as cinematecas, deles vieram os festivais de cinema. Nos cineclubes formaram-se – e ainda se formam - os maiores nomes do cinema. E é em torno os cineclubes que se estrutura o que há de cinema nacional nos países mais arrasados pela presença esmagadora da produção hollywoodiana. Os cineclubes surgiram, na verdade há mais de 80 anos, exatamente para denunciar a unilateralidade e a uniformidade do cinema reduzido a instrumento do capital. Os cineclubes nasceram e são até hoje os únicos e os legítimos representantes do público. A consciência e a voz do público que se organiza, que é sujeito – e não objeto – do processo cultural.
Felipe Macedo
Presidente da Federação Paulista de Cineclubes
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