O cineclube como projeto de soberania nacional
José Rabelo
(“Continuo fechado com minhas posições de um cinema terceiro-mundista. Independente do ponto-de-vista econômico e artístico, que não deixe a criatividade estética desaparecer em nome de uma objetividade comercial e de um imediatismo político”. Glauber Rocha)
Os desavisados que conversam pela primeira vez com Antonio Claudino de Jesus, não imaginam que por trás daquela pessoa aberta, descontraída e falante existe um médico patologista de formação. Ele mesmo admite que as pessoas apostam, num primeiro momento, que a sua formação é em Comunicação ou em Artes. O fato é que ele ainda hoje divide sua atenção entre cineclubismo e as aulas de medicina que ministra na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A prática da medicina ele diz ter abandonado há muito tempo, a sala de aula é ainda o único caminho com o qual ele se identifica para continuar com a medicina. “Não suportava mais assistir ao sofrimento das pessoas na emergência do pronto socorro. Isso fazia muito mal para mim, chegava a ficar dois ou três dias doente depois de um plantão”.
Mas a medicina, ao mesmo tempo, sempre teve um papel importante em sua trajetória, foi justamente no curso de biomédicas da Ufes, que iniciou em 1973, sob a ditadura de Médici, que Claudino, junto com um grupo de estudantes também da medicina, passou a organizar o movimento cultural universitário. “Além de o movimento ter começado pela área da saúde, o mais engraçado ainda é que em seguida ele foi para a engenharia e só depois ele chagou na comunicação e nas artes”. Claudino conta que na época da ditadura o movimento cultural serviu como uma espécie de biombo para o movimento estudantil. Segundo ele, o movimento cultural incomodava menos a ditadura. Ele lembra também que o papel do reitor da Ufes, Manoel Ceciliano, foi fundamental no processo de fortalecimento e crescimento do movimento. “Por mais que a ditadura de Médici tenha agudizado os movimentos, dentro da Ufes nós tínhamos total liberdade. O reitor nos blindava. Para você ter uma idéia, o último dossiê que o Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) fez sobre mim, dizia que a Ufes era um celeiro de comunistas sobre as bênçãos do reitor e do sub-reitor”.
Embora admita que o governo Lula esteja exercendo um papel importante nesse processo de retomada do cinema brasileiro e, sobretudo, no fortalecimento do movimento cineclubista, ele já adianta logo que não é petista. Comunista assumido, ele diz que hoje no Brasil não há nenhum partido político que mereça o título de comunista.
Embora o capixaba de Barra de São Francisco, aos 57 anos, seja humilde o bastante para ressaltar o tempo todo que as importantes conquistas do cineclubismo brasileiro são obras de um grupo de pessoas competentes e comprometidas que, como ele, se empenhou, ao longo desses anos, para colocar o Brasil como uma das referências mundiais do movimento, não dá para deixar de reconhecer que o cineclubista, produtor de cinema, presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros, vice-presidente da Federação Internacional de Cineclubes, membro do Conselho Consultivo da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, é hoje uma das principais lideranças do cineclubismo mundial.
Na entrevista a seguir, o leitor poderá conhecer um pouco mais da história do cineclubismo no Brasil. Saber os principais pontos discutidos na recente Conferência Mundial de Cineclubes da Cidade do México e descobrir porque o projeto “Cineclubismo e Educação” – desenvolvido em Vila Velha – roubou a cena na Conferência e se tornou a maior atração do evento. Além disso, Claudino revela também quais são os atuais desafios do movimento cineclubista no Brasil e no mundo.
- Século Diário: Seu interesse pelas artes começou a se manifestar em que época da sua vida?
- Antonio Claudino de Jesus: Sou de Barra de São Francisco. Na década de 60, quando ainda cursava o ensino secundário, comecei a trabalhar com teatro. Em 1967, fui para Colatina e criei, junto com um grupo de amigos, o Festival da Música Estudantil Colatinense. No início de 70, vim para Vitória e em 1973 iniciei o curso de Medicina na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). Comecei fazendo teatro e no ano seguinte (1974) organizei o Cineclube Universitário que hoje é o Cine Metrópolis, que tem essa trajetória ininterrupta de 74 até os dias de hoje.
- O senhor foi um dos idealizadores do Cine Metrópolis?
- Exatamente, a idéia de criar o Cineclube Universitário partiu de um grupo que eu coordenava dentro do movimento estudantil. O Diretório Acadêmico de Biomédicas foi o primeiro a ser reaberto depois que a ditadura militar fechou tudo dentro da universidade. Em 1972, a ditadura havia invadido o campus, fechado o Diretório Acadêmico de Biomédicas e prendido Vitor Buaiz e outras lideranças políticas da Ufes. Cheguei, em 1973, com o Médici (general Emílio Garrastazu Médici, governou de 1969 a 1974) na cabeça e dentro desse clima de terror. O que restava para nós era trabalharmos a cultura. Então, primeiro nos organizamos culturalmente e só depois disso que começamos a reorganizar o movimento estudantil.
- A opção pelos movimentos culturais foi estratégica? Era o que incomodava menos a ditadura naquele momento?
- Era justamente o que incomodava menos. Embora as manifestações artísticas fossem muito perseguidas pela ditadura em um plano de quem já tinha projeção popular, como Chico Buarque, Caetano, Gil e etc. Nós, como artistas, não representávamos nada para a ditadura. Esse movimento foi se fortalecendo e se espalhando pela universidade, chegou à Engenharia, Comunicação, Artes e nós fomos formando uma rede cultural.
- O senhor não acha curioso que esse movimento cultural tenha eclodido na faculdade de biomédicas? - Além de o movimento ter começado pela área da saúde, o que é mais engraçado ainda é que logo depois ele vai para a Engenharia e só depois ele chaga na Comunicação e nas Artes. Até hoje as pessoas que me entrevistam acham que eu tenho formação em Artes ou Comunicação, quando falo que sou médico as pessoas tomam um susto.
- E o interesse pelo cinema, quando começou?
- Em 1974, eu estava no restaurante universitário, que funcionava em frente à antiga Capitania dos Portos, no Centro da cidade, e alguém me convidou para assistir ao filme ‘Teorema’. Isso me aguçou, porque eu já era bastante apaixonado por cinema.
- Quer dizer que essa paixão pelo cinema já era antiga?
- Desde criança eu sempre gostei muito de cinema. Lá em São Francisco, eu era compadre de um senhor chamado Ranulfo, que era dono do cinema. Ele gostava muito de mim, e me convidava para assistir os filmes. Com oito anos, como não tinha idade para entrar no cinema, eu já assistia aos filmes da cabine. Com 11 anos eu já havia assistido o ‘Terra em Transe’, do Glauber Rocha. Eu era de uma família humilde, pobre, e se não fosse assim, não teria dinheiro para pagar as entradas do cinema. Mas voltando, o ‘Teorema’ seria exibido em um daqueles ICs do campus universitário de Goiabeiras. Nessa época, a gente andava no meio da lama para chegar aos prédios da universidade. Andávamos descalços pela lama e quando chegávamos à porta do prédio lavávamos os pés e calçávamos os sapatos para entrar nas salas de aula. Havia dois funcionários e um aluno que eram do movimento de cineclubes da década de 60 e estavam tentando retomar as atividades. Eles exibiam os filmes em uma sala de aula que nem era escurecida. Era tudo feito de forma muito franciscana. No final da exibição eles passavam um chapeuzinho e cada um dava uma moedinha para ajudar a pagar o filme. E foi ali que assisti ‘Teorema’. Esse foi meu primeiro contato com o cineclube. Eu achava que nós estávamos inventando aquilo tudo, não sabia que essa história de cineclube já existia. Acabei me juntando a essas três pessoas e passamos a fazer exibições mais sistemáticas. Mas depois de um tempo, não conseguimos manter as exibições por falta de dinheiro, já estávamos devendo para a distribuidora. Procuramos então a Reitoria para pedir ajuda. Eles então nos ofereceram uma sala na Reitoria Comunitária e, no final de 1974, surgia o cineclube dentro da universidade. A partir daí podíamos fazer as exibições com ampla divulgação. Uma coisa muito importante de registrar era que o cineclube estava, a partir deste momento, sob as asas da universidade. Por mais que a ditadura de Médici tenha agudizado os movimentos, dentro da Ufes nós tínhamos total liberdade. O reitor, Manoel Ceciliano, nos blindava. Para você ter uma idéia, o último dossiê que o Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) fez sobre mim, dizia que a Ufes era um celeiro de comunistas sobre as bênçãos do reitor e do sub-reitor. Embora o reitor fosse nomeado pela ditadura, ele tinha compromisso com a universidade e não com a o regime militar. A polícia nunca colocava os pés lá dentro. Isso nos deu liberdade para crescer. Nessa época, o jornalista Amylton de Almeida, do jornal A Gazeta, também nos deu um espaço de divulgação que foi muito importante para levarmos nosso trabalho para o público. Nós fomos crescendo e foi juntando cada vez mais pessoas em volta da gente. Quando fomos perceber, no final da década de 70, já havia cineclubes em todos os centros estudantis da universidade e inclusive em Alegre. Nós fizemos um projeto chamado ‘Cinema, Escola e Comunidade’ e conseguimos recursos da Funarte (Fundação Nacional de Artes) para estruturar a Federação de Cineclubes do Espírito Santo. Com o projeto, conseguimos instalar cineclubes na periferia de Vitória e em mais de vinte cidades do interior.
- Comparando o movimento de cineclubes do Espírito Santo com outros do País, é possível dizer que vocês eram vanguardistas dessas iniciativas?
- Eu esqueci de contar uma coisa. Em 1976, eu falei para o Penina (Rômulo Penina, sub-reitor da Ufes) para que ele enviasse um comunicado para todas as universidades de outros estados para saber se havia movimento de cineclubes. A idéia era fazer um encontro nacional de cineclubes. Chegou então para nós um convite de Felipe Macedo, que à época era presidente do Conselho Nacional de Cineclubes. Esse informe dizia que o conselho havia se reestruturado depois de ser banido em 1968 pela ditadura. Na hora eu tomei um susto, porque não sabia que já existia conselho etc, etc. Esse convite informava que haveria uma Jornada Nacional (1977), em Campina Grande (PB), e Macedo queria saber se havia alguém na universidade que pudesse representar o Espírito Santo no encontro. Eu e Magno Godoy fomos para Campina Grande e lá nos enredamos com os representantes de outros estados. Depois da Jornada, minha participação começou a crescer. Em 1978, fui eleito secretário do Conselho Nacional de Cineclubes e em 1980, presidente pela primeira vez.
- Mesmo com essa projeção nacional, a militância dentro da universidade continuava?
- Paralelo ao fortalecimento dos cineclubes, o movimento estudantil crescia em todo o Brasil. Isto porque, num primeiro momento, o movimento cultural serviu como biombo para o crescimento do movimento estudantil. Quando a sociedade começou a sair para as ruas para pedir liberdade, nós assumimos a as entidades cineclubistas. Criamos um conselhão estudantil na universidade, porque não era permitido ter DCE (Diretório Central dos Estudantes) por decreto da ditadura. Esse momento foi importantíssimo porque o movimento cultural teve que assumir a sua própria identidade. O movimento estudantil, nessa época, já não precisa do movimento cultural para fazer política estudantil. E nesse momento que surgem as mostras de teatro da universidade, no início da década de 80. Iniciamos então uma rearticulação cultural em todo o Estado. Orlando Bomfim Neto, que era cineclubista, é reeleito para o Departamento Estadual de Cultura, e isso foi muito importante porque ficamos mais fortalecidos no governo do Estado e já conquistávamos também destaque nacional com a minha eleição à frente do Conselho Nacional de Cineclubes. De lá para cá, o movimento cineclubista cresceu e se fortaleceu em todo o Brasil. Esse processo foi importantíssimo para a história do País não só pelo combate à ditadura, mas também como reorganizador do cinema brasileiro. Hoje podemos dizer que não existe cineasta, crítico ou professor de cinema que não tenham saído do movimento estudantil. Não fazíamos só política, nós estudávamos cinema. Vitória talvez nunca tenha tido na sua história acesso ao cinema nacional e mundial da mais alta qualidade como teve da segunda metade da década de 70 até o final da década de 80.
- Por que o processo é interrompido no final da década de 80?
- No final dos anos 80 vem a derrocada. Com a eleição do Collor e o processo de redemocratização – que até hoje não foi completado, porque o Brasil só é democrático politicamente, com relação ao aspecto social e econômico ainda não somos um País democrático. O Collor não seqüestrou somente nossas poupanças, mas deu um golpe duríssimo em toda a sociedade. No caso do cinema, especificamente, ele extinguiu toda a legislação existente, destruiu a Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme) e o Conselho Nacional de Cinema. Diante disso, o movimento ficou pasmo, como toda a sociedade brasileira. Isso foi geral, todas as organizações envolvidas em movimentos sociais tiveram um refluxo nesse momento. E as pessoas se perguntavam: ‘Nós trouxemos esse homem aqui para quê?’. No movimento cineclubista esse processo durou quase 15 anos, só voltou a ser resgatado mais intensamente em 2003. Nesse período, alguns cineclubes conseguiram se manter, mais o movimento foi interrompido, foi destruído. Para nós foi um golpe comparado ao AI-5.
- Somente em 2003 se inicia esse processo de resgate do movimento cineclubista?
- Com o governo Lula, isso começa a ser retomado. Quero deixar claro, no entanto, que não sou petista. Na verdade, não sou de partido nenhum. Sou comunista mesmo, filosófica e ideologicamente. Hoje no Brasil não há nenhum partido que mereça o título de comunista. Mas com a chegada do governo Lula acontece o que já deveria ter ocorrido logo depois da Constituição de 1988. Mesmo antes de Lula, com o governo Fernando Henrique, não podemos dizer que não houve um avanço democrático importante. FHC estruturou o Ministério da Cultura, criou a Lei Rouanet de incentivo à cultura, a lei de incentivo ao cinema etc. Nessa época começa a ser retomada a produção do cinema brasileiro. Tudo isso representou, sem dúvida, um avanço, mas a coisa ainda não havia se consolidado. Não havia um compromisso, um estímulo ao movimento. Em 2003, por iniciativa de Leopoldo Nunes – que foi diretor da Ancine (Agência Nacional do Cinema) e chefe de gabinete do Ministério da Cultura, ex-cineclubista e que atualmente está na recém criada TV Brasil – aconteceu uma reunião no Ministério da Cultura. Nesse encontro, concluímos que a produção do cinema brasileiro estava avançando, a distribuição estava sendo discutida, mas faltava um elemento básico para o cinema brasileiro, que era justamente o movimento cineclubista. Houve então uma reunião com o ministro Gilberto Gil quando foram convocadas algumas lideranças históricas do movimento cineclubista brasileiro, inclusive o Claudino, do Espírito Santo. Nessa reunião fomos provocados para retomar o movimento. E como não se pode cutucar o diabo com vara curta, seis dias depois da reunião estávamos retomando a Jornada Nacional de Cineclubes. Dentro do Festival de Cinema de Brasília, reunimos as lideranças que já existiam e outras que surgiram. Criamos uma comissão de rearticulação do movimento cineclubista e acabei virando coordenador desse grupo. Essa comissão evoluiu, fizemos uma outra jornada, recriamos o Conselho Nacional de Cineclubes e desde então sou eleito presidente quase que caudilhamente. O fato de você ter um ministro como o Gil e um ministério cheio de cineclubistas foi fundamental para nós resgatarmos o movimento. A interlocução passou a ser muito mais fácil, porque agora falamos com colegas. Não há mais aquela trajetória estúpida e burocrática que emperrava os processos.
- Podemos afirmar hoje que o movimento cineclubista vive um momento positivo e está concluindo esse processo de consolidação?
- Eu acho que o movimento, no que se refere a esse processo de rearticulação, já está consolidado. A questão passou a ser o processo de reinstitucionalização. Nessa luta nós conseguimos a Agência Nacional do Cinema (Ancine) que até pouco tempo não existia. Para nossa sorte, o Leopoldo Nunes foi nomeado para dirigir a Ancine e capitaneou conosco uma luta nacional pela regulamentação do cinema brasileiro. Em 2007, fizemos uma audiência pública na Ancine e propusemos uma Instrução Normativa que entrou em consulta pública - inclusive esta foi a consulta pública da Agência mais voltada, cerca de 700 pessoas de todo o Brasil participaram - para reconhecer, regulamentar, definir e conceituar o movimento cineclubista brasileiro. Esse apoio maciço, esse reconhecimento nacional, mostrou que estávamos no caminho certo.
- Quais são agora os desafios da institucionalização?
- O primeiro ponto foi conquistar essa regulamentação oficial que reconhece e coloca formalmente no processo do cinema brasileiro o movimento cineclubista, que foi a Instrução Normativa 63, da Ancine. Paralelamente a isso, em 2004, fomos procurados pelo cineclubista e cineasta argentino, Juan Carlos Arch, que infelizmente faleceu no ano passado, que era secretário Latino-americano da Federação Internacional de Cineclubes. Curiosamente a Federação Internacional também passou, a exemplo do Brasil, por um processo de interrupção e também retomou o movimento somente em 2000. Na Jornada de São Paulo, Arch nos convidou para participar da Assembléia Geral da Federação Internacional de Cineclubes. Eu participei, como representante do Brasil, e nessa assembléia criamos o grupo Ibero-Americano. Fui nomeado coordenador desse grupo e na primeira eleição, todos os países membros, por unanimidade, me elegeram para a vice-presidência da Federação Internacional de Cineclubes.
- Como se explica esse reconhecimento internacional do cineclubismo brasileiro?
- Na verdade, o cineclubismo brasileiro sempre teve grande destaque internacional. Felipe Macedo, aquele que eu disse que me mandou o primeiro convite em 1977 para participar da Jornada Nacional de Campina Grande (PB), foi secretário Latino-Americano da Federação Internacional. O movimento cineclubista brasileiro sempre foi considerado um dos mais importantes do mundo. Quando cheguei nessa assembléia, fui ovacionado. Eu fiquei até espantado, porque ninguém sabia quem era o Claudino. Porque eu fui presidente várias vezes do Conselho Nacional, mas nunca tinha chegado à Federação Internacional, quem sempre era eleito era o Felipe Macedo, que inclusive, na minha opinião, é o cineclubista vivo mais importante na história do cineclubismo brasileiro. Mas eu realmente tomei um susto com tamanho assédio. Já queriam que eu fizesse conferências e etc. Como só falava português, foi um corre-corre danado para arrumar tradutor, enfim, foi uma loucura.
- Desse encontro saiu o projeto para organizar a Conferência Internacional que aconteceu agora em fevereiro na Cidade do México?
- Quem propôs a Conferência Internacional foi o nosso grupo que é composto pelo México, Brasil, Argentina e Espanha (Catalunha). Na Assembléia Internacional de 2005, nós começamos a fazer a articulação para a conferência. Nós montamos uma difusora internacional de filmes, que é o Catálogo CineSud, através dele nós lançamos mais de 500 filmes do mundo inteiro por difusão livre. Enfim, esse grupo Ibero-Americano começou a romper barreiras. Chamamos então o grupo asiático para integrar esse movimento. Hoje, para você ter uma idéia, o grupo europeu é o mais fraco. A América Latina é a ponta de lança desse processo de trazer a diversidade para a Federação Internacional. Na atual gestão, o presidente é italiano, o vice é brasileiro, o tesoureiro é ucraniano e o secretário-geral é de Bangladesh. Isso nunca aconteceu antes, a comissão executiva sempre foi toda européia. O atual presidente da Federação Internacional, Paolo Minuto, que se considera mais latino do que italiano, tem feito um trabalho fantástico à frente da Federação. Ele roda o mundo inteiro para fortalecer o cineclubismo. Para você ter uma idéia de sua dedicação, Paolo esteve no meio da guerra da Sérvia, em Kosovo, organizando cineclubes.
- Na Conferência do México só deu Brasil.
- Foi uma coisa incrível. Eu e o Felipe Macedo fomos conferencistas de três mesas, isso mostrou a força do cineclubismo brasileiro. Lá nós percebemos o interesse da imprensa internacional e dos participantes de várias partes do mundo no nosso trabalho. O foco estava no Brasil. Nós tentamos até transferir esse foco para o México que estava sediando o evento, porque para o México esse impulso era muito importante, eles estão passando por um processo de rearticulação semelhante ao que passamos em 2005.
- Fale um pouco sobre o tema da mesa “Cineclubismo e Educação”, parece que esse tema teve grande repercussão na Conferência?
- Essa mesa, em especial, teve uma repercussão fantástica. Eu recebo até hoje correspondências de pesquisadores me consultando sobre o tema, pedindo material para desenvolver teses acadêmicas com esse foco. Alguns países também têm nos consultado com interesse de replicar o projeto. A base desse projeto foi construída a partir do trabalho que iniciamos na década de 80 com a Ufes, Embrafilme, Funarte e com o Departamento Estadual de Cultura. Esse projeto se chamava ‘Cinema, Escola e Comunidade’. Nós desenvolvemos essa ação em cerca de vinte municípios capixabas e dez bairros da periferia de Vitória. Esse projeto previa trabalhar cineclubismo com as escolas para fazer um link desse processo com a comunidade, rompendo o muro que existia entre escola-comunidade através do cinema. Com a retomada do movimento, o Espírito Santo mais uma vez saiu na frente e criou a primeira Associação Municipal de Cineclubes de Vila Velha. Esse trabalho desenvolvido hoje pela Associação envolve doze escolas da periferia de Vila Velha. Esse projeto atual, calcado no projeto deflagrado na década de 80, promoveu um importante avanço, porque ele vai muito além dessa proposta inicial de romper com a barreira escola-comunidade. O eixo central do projeto é preparar esses alunos do ensino fundamental para se tornarem cineclubistas e a organizarem seus próprios cineclubes. Esse eixo central puxa para o Escola Aberta, que tem o objetivo de trabalhar o cineclube junto à comunidade que a escola está inserida. Um outro aspecto fundamental do projeto é capacitar os professores para o uso do cinema dentro da sala de aula como parte do currículo. Fora isso, nós promovemos cursos nas escolas, junto com os realizadores capixabas, para ensinar alunos e professores a produzirem filmes. A idéia é quebrar com esse mito, pregado pela Rede Globo e por Hollywood, de que o cinema é algo inalcançável. Você passa a usar o cinema como uma ferramenta de inclusão social. Essas crianças passam a discutir e documentar a realidade vivida por elas. Esse projeto já produziu seis filmes, inclusive dois deles foram premiados em festivais de curta do Espírito Santo e de São Paulo. Isso só está sendo possível graças à visão cultural do secretário de Educação de Vila Velha, Roberto Beling, que inclusive é ex-cineclubista. Ele percebeu a importância do projeto e decidiu apoiá-lo. Esse acabou sendo o foco da discussão da Conferência do México.
- Quer dizer que todas essas ações estão ajudando a consolidar esse processo de institucionalizar o cineclubismo no Brasil?
- Estamos nesse processo. Como eu já disse, o primeiro passo importante foi o reconhecimento da Ancine, atualmente eu estou organizando também um censo de cineclubes em todo o mundo, mas isso não basta...
- Hoje nós temos quantos cineclubes funcionando no Brasil?
- Mapeados pelo Conselho Nacional temos 450, destes, 150 estão filiados ao Conselho. O trabalho de organizar cineclubes em um país do tamanho do Brasil não é nada fácil, além das distâncias, cada estado brasileiro é praticamente um país.
- Qual é o caminho para uma pessoa montar hoje um cineclube no Brasil?
- Primeiro ela precisa se juntar com mais algumas pessoas interessadas no tema, depois visitar o site www.cineclubes.org.br, nesse endereço ela vai encontrar todo o passo a passo para organizar um cineclube. Em seguida, ela deve fazer contato conosco. Mas voltando à institucionalização, eu dizia que isso que conseguimos conquistar até agora ainda não é o bastante. Nós queremos ser reconhecidos por uma lei voltada pelo Congresso Nacional, que esclareça que nós organizamos o público em torno do audiovisual para acabar com a dependência nacional desse processo hegemônico imposto por Hollywood. Nosso papel é de cidadania, de soberania nacional. É por isso que somos considerados uma ameaça para a Movie Pictures. Não é por acaso que a Movie Pictures vivia invadindo os cineclubes ou a Europa Cine processou o Falcatrua (cineclube de Vitória). Os cineclubes são os espaços mais agredidos pelas grandes corporações.
- Mas vocês já conseguiram romper a produção do cinema no Brasil?
- Já rompemos a produção, mas agora falta romper a exibição e distribuição do cinema no Brasil. O Brasil produz hoje cerca de 70 a 80 longas por ano. Quantos filmes brasileiros você vê chegando ao cinema? Dois, três. Quanto tempo eles ficam em exibição? Uma semana no máximo.
- Dependendo do estado não chega, a população só tem acesso através das mostras, festivais e dos cineclubes.
- As mostras e festivais são pontuais, acontecem uma vez por ano, a única alternativa sistemática e organizada de exibição são justamente os cineclubes. Se você consultar as estatísticas vai perceber que a população brasileira não assiste a um filme por ano; 92% das cidades brasileiras não têm uma única sala de cinema; cerca de 60% dos jovens brasileiros, na faixa etária entre 15 e 20 anos, nunca viu um filme, a não ser o que a TV Globo exibe. Isso significa destruir uma nação. Eu estou falando de conceito de nação, que se constrói culturalmente. Nós estamos destruindo uma juventude inteira. O movimento cineclubistas não está aí só para ficar exibindo filmes. Não estamos de brincadeira, temos um propósito claro: organizar o povo brasileiro em torno do audiovisual, romper com o monopólio da distribuição e exibição e garantir um acesso livre e gratuito para todos os cidadãos. Isto está na carta de Direitos Humanos que está completando 70 anos em 2008, está na Constituição de 88, na Carta dos Direitos do Público, que o movimento cineclubista criou em 1987, na extinta Tchecoslováquia. Nós estamos aqui para garantir o direito do público, inclusive lançamos este mês uma campanha mundial no Brasil pelos ‘Direitos do Público’. A idéia é construir uma legislação que garanta o direito a todo o cidadão brasileiro de ter acesso a todo e qualquer conteúdo audiovisual autorizado a circular no País, além disso, queremos garantir que todo o movimento cineclubista do Brasil, as escolas, as cinematecas, sejam autorizadas a exibir, sem pedir licença a ninguém, todo o produto audiovisual que entrar no País. Isso é muito justo, porque não temos fins lucrativos e não competimos no mercado de exibição com ninguém. Não podemos permitir que o cidadão brasileiro continue refém da concentração de poder na área do audiovisual, que é dominada por um bairro de Los Angeles chamado Hollywood. Esse domínio não acontece somente no Brasil, eu rodo o mundo e posso falar. Isto acontece também na França, na Inglaterra e em diversos países. Hoje, esse domínio só não está presente na Índia e na Coréia, que romperam de vez com esse modelo hegemônico imposto por Hollywood. Se a nossa briga no Brasil é transformar a democratização do acesso ao audiovisual em lei, no mundo, o desafio da Federação Internacional é tirar essa prerrogativa da Federação do Comércio e transferir para a Unesco a discussão dos bens culturais. Bem cultural não pode ser objeto de mercado. Um filme após quatro ou cinco anos, depois que ele já passou pela telona, telinha e se transformou em DVD na locadora, não tem mais fim comercial algum. Então porque o povo não pode ter acesso? Simplesmente pelo controle ideológico que existe. E com isso que queremos romper. Eu sei que a briga não vai ser fácil para construir e aprovar essa lei no Congresso Nacional, que mexe com tantos interesses econômicos. É claro que a Rede Globo, que atende aos interesses da Movie Pictures, vai dar porrada na gente, mas eu já estou acostumado a levar porrada. Sobrevivi à ditadura e não é agora em plena democracia que eu vou me acovardar. Vamos em frente.
Os desavisados que conversam pela primeira vez com Antonio Claudino de Jesus, não imaginam que por trás daquela pessoa aberta, descontraída e falante existe um médico patologista de formação. Ele mesmo admite que as pessoas apostam, num primeiro momento, que a sua formação é em Comunicação ou em Artes. O fato é que ele ainda hoje divide sua atenção entre cineclubismo e as aulas de medicina que ministra na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A prática da medicina ele diz ter abandonado há muito tempo, a sala de aula é ainda o único caminho com o qual ele se identifica para continuar com a medicina. “Não suportava mais assistir ao sofrimento das pessoas na emergência do pronto socorro. Isso fazia muito mal para mim, chegava a ficar dois ou três dias doente depois de um plantão”.
Mas a medicina, ao mesmo tempo, sempre teve um papel importante em sua trajetória, foi justamente no curso de biomédicas da Ufes, que iniciou em 1973, sob a ditadura de Médici, que Claudino, junto com um grupo de estudantes também da medicina, passou a organizar o movimento cultural universitário. “Além de o movimento ter começado pela área da saúde, o mais engraçado ainda é que em seguida ele foi para a engenharia e só depois ele chagou na comunicação e nas artes”. Claudino conta que na época da ditadura o movimento cultural serviu como uma espécie de biombo para o movimento estudantil. Segundo ele, o movimento cultural incomodava menos a ditadura. Ele lembra também que o papel do reitor da Ufes, Manoel Ceciliano, foi fundamental no processo de fortalecimento e crescimento do movimento. “Por mais que a ditadura de Médici tenha agudizado os movimentos, dentro da Ufes nós tínhamos total liberdade. O reitor nos blindava. Para você ter uma idéia, o último dossiê que o Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) fez sobre mim, dizia que a Ufes era um celeiro de comunistas sobre as bênçãos do reitor e do sub-reitor”.
Foto: José Rabelo |
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Embora o capixaba de Barra de São Francisco, aos 57 anos, seja humilde o bastante para ressaltar o tempo todo que as importantes conquistas do cineclubismo brasileiro são obras de um grupo de pessoas competentes e comprometidas que, como ele, se empenhou, ao longo desses anos, para colocar o Brasil como uma das referências mundiais do movimento, não dá para deixar de reconhecer que o cineclubista, produtor de cinema, presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros, vice-presidente da Federação Internacional de Cineclubes, membro do Conselho Consultivo da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, é hoje uma das principais lideranças do cineclubismo mundial.
Na entrevista a seguir, o leitor poderá conhecer um pouco mais da história do cineclubismo no Brasil. Saber os principais pontos discutidos na recente Conferência Mundial de Cineclubes da Cidade do México e descobrir porque o projeto “Cineclubismo e Educação” – desenvolvido em Vila Velha – roubou a cena na Conferência e se tornou a maior atração do evento. Além disso, Claudino revela também quais são os atuais desafios do movimento cineclubista no Brasil e no mundo.
- Século Diário: Seu interesse pelas artes começou a se manifestar em que época da sua vida?
- Antonio Claudino de Jesus: Sou de Barra de São Francisco. Na década de 60, quando ainda cursava o ensino secundário, comecei a trabalhar com teatro. Em 1967, fui para Colatina e criei, junto com um grupo de amigos, o Festival da Música Estudantil Colatinense. No início de 70, vim para Vitória e em 1973 iniciei o curso de Medicina na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo). Comecei fazendo teatro e no ano seguinte (1974) organizei o Cineclube Universitário que hoje é o Cine Metrópolis, que tem essa trajetória ininterrupta de 74 até os dias de hoje.
- O senhor foi um dos idealizadores do Cine Metrópolis?
- Exatamente, a idéia de criar o Cineclube Universitário partiu de um grupo que eu coordenava dentro do movimento estudantil. O Diretório Acadêmico de Biomédicas foi o primeiro a ser reaberto depois que a ditadura militar fechou tudo dentro da universidade. Em 1972, a ditadura havia invadido o campus, fechado o Diretório Acadêmico de Biomédicas e prendido Vitor Buaiz e outras lideranças políticas da Ufes. Cheguei, em 1973, com o Médici (general Emílio Garrastazu Médici, governou de 1969 a 1974) na cabeça e dentro desse clima de terror. O que restava para nós era trabalharmos a cultura. Então, primeiro nos organizamos culturalmente e só depois disso que começamos a reorganizar o movimento estudantil.
- A opção pelos movimentos culturais foi estratégica? Era o que incomodava menos a ditadura naquele momento?
- Era justamente o que incomodava menos. Embora as manifestações artísticas fossem muito perseguidas pela ditadura em um plano de quem já tinha projeção popular, como Chico Buarque, Caetano, Gil e etc. Nós, como artistas, não representávamos nada para a ditadura. Esse movimento foi se fortalecendo e se espalhando pela universidade, chegou à Engenharia, Comunicação, Artes e nós fomos formando uma rede cultural.
- O senhor não acha curioso que esse movimento cultural tenha eclodido na faculdade de biomédicas? - Além de o movimento ter começado pela área da saúde, o que é mais engraçado ainda é que logo depois ele vai para a Engenharia e só depois ele chaga na Comunicação e nas Artes. Até hoje as pessoas que me entrevistam acham que eu tenho formação em Artes ou Comunicação, quando falo que sou médico as pessoas tomam um susto.
Foto: José Rabelo |
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- Em 1974, eu estava no restaurante universitário, que funcionava em frente à antiga Capitania dos Portos, no Centro da cidade, e alguém me convidou para assistir ao filme ‘Teorema’. Isso me aguçou, porque eu já era bastante apaixonado por cinema.
- Quer dizer que essa paixão pelo cinema já era antiga?
- Desde criança eu sempre gostei muito de cinema. Lá em São Francisco, eu era compadre de um senhor chamado Ranulfo, que era dono do cinema. Ele gostava muito de mim, e me convidava para assistir os filmes. Com oito anos, como não tinha idade para entrar no cinema, eu já assistia aos filmes da cabine. Com 11 anos eu já havia assistido o ‘Terra em Transe’, do Glauber Rocha. Eu era de uma família humilde, pobre, e se não fosse assim, não teria dinheiro para pagar as entradas do cinema. Mas voltando, o ‘Teorema’ seria exibido em um daqueles ICs do campus universitário de Goiabeiras. Nessa época, a gente andava no meio da lama para chegar aos prédios da universidade. Andávamos descalços pela lama e quando chegávamos à porta do prédio lavávamos os pés e calçávamos os sapatos para entrar nas salas de aula. Havia dois funcionários e um aluno que eram do movimento de cineclubes da década de 60 e estavam tentando retomar as atividades. Eles exibiam os filmes em uma sala de aula que nem era escurecida. Era tudo feito de forma muito franciscana. No final da exibição eles passavam um chapeuzinho e cada um dava uma moedinha para ajudar a pagar o filme. E foi ali que assisti ‘Teorema’. Esse foi meu primeiro contato com o cineclube. Eu achava que nós estávamos inventando aquilo tudo, não sabia que essa história de cineclube já existia. Acabei me juntando a essas três pessoas e passamos a fazer exibições mais sistemáticas. Mas depois de um tempo, não conseguimos manter as exibições por falta de dinheiro, já estávamos devendo para a distribuidora. Procuramos então a Reitoria para pedir ajuda. Eles então nos ofereceram uma sala na Reitoria Comunitária e, no final de 1974, surgia o cineclube dentro da universidade. A partir daí podíamos fazer as exibições com ampla divulgação. Uma coisa muito importante de registrar era que o cineclube estava, a partir deste momento, sob as asas da universidade. Por mais que a ditadura de Médici tenha agudizado os movimentos, dentro da Ufes nós tínhamos total liberdade. O reitor, Manoel Ceciliano, nos blindava. Para você ter uma idéia, o último dossiê que o Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) fez sobre mim, dizia que a Ufes era um celeiro de comunistas sobre as bênçãos do reitor e do sub-reitor. Embora o reitor fosse nomeado pela ditadura, ele tinha compromisso com a universidade e não com a o regime militar. A polícia nunca colocava os pés lá dentro. Isso nos deu liberdade para crescer. Nessa época, o jornalista Amylton de Almeida, do jornal A Gazeta, também nos deu um espaço de divulgação que foi muito importante para levarmos nosso trabalho para o público. Nós fomos crescendo e foi juntando cada vez mais pessoas em volta da gente. Quando fomos perceber, no final da década de 70, já havia cineclubes em todos os centros estudantis da universidade e inclusive em Alegre. Nós fizemos um projeto chamado ‘Cinema, Escola e Comunidade’ e conseguimos recursos da Funarte (Fundação Nacional de Artes) para estruturar a Federação de Cineclubes do Espírito Santo. Com o projeto, conseguimos instalar cineclubes na periferia de Vitória e em mais de vinte cidades do interior.
Foto: José Rabelo |
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- Eu esqueci de contar uma coisa. Em 1976, eu falei para o Penina (Rômulo Penina, sub-reitor da Ufes) para que ele enviasse um comunicado para todas as universidades de outros estados para saber se havia movimento de cineclubes. A idéia era fazer um encontro nacional de cineclubes. Chegou então para nós um convite de Felipe Macedo, que à época era presidente do Conselho Nacional de Cineclubes. Esse informe dizia que o conselho havia se reestruturado depois de ser banido em 1968 pela ditadura. Na hora eu tomei um susto, porque não sabia que já existia conselho etc, etc. Esse convite informava que haveria uma Jornada Nacional (1977), em Campina Grande (PB), e Macedo queria saber se havia alguém na universidade que pudesse representar o Espírito Santo no encontro. Eu e Magno Godoy fomos para Campina Grande e lá nos enredamos com os representantes de outros estados. Depois da Jornada, minha participação começou a crescer. Em 1978, fui eleito secretário do Conselho Nacional de Cineclubes e em 1980, presidente pela primeira vez.
- Mesmo com essa projeção nacional, a militância dentro da universidade continuava?
- Paralelo ao fortalecimento dos cineclubes, o movimento estudantil crescia em todo o Brasil. Isto porque, num primeiro momento, o movimento cultural serviu como biombo para o crescimento do movimento estudantil. Quando a sociedade começou a sair para as ruas para pedir liberdade, nós assumimos a as entidades cineclubistas. Criamos um conselhão estudantil na universidade, porque não era permitido ter DCE (Diretório Central dos Estudantes) por decreto da ditadura. Esse momento foi importantíssimo porque o movimento cultural teve que assumir a sua própria identidade. O movimento estudantil, nessa época, já não precisa do movimento cultural para fazer política estudantil. E nesse momento que surgem as mostras de teatro da universidade, no início da década de 80. Iniciamos então uma rearticulação cultural em todo o Estado. Orlando Bomfim Neto, que era cineclubista, é reeleito para o Departamento Estadual de Cultura, e isso foi muito importante porque ficamos mais fortalecidos no governo do Estado e já conquistávamos também destaque nacional com a minha eleição à frente do Conselho Nacional de Cineclubes. De lá para cá, o movimento cineclubista cresceu e se fortaleceu em todo o Brasil. Esse processo foi importantíssimo para a história do País não só pelo combate à ditadura, mas também como reorganizador do cinema brasileiro. Hoje podemos dizer que não existe cineasta, crítico ou professor de cinema que não tenham saído do movimento estudantil. Não fazíamos só política, nós estudávamos cinema. Vitória talvez nunca tenha tido na sua história acesso ao cinema nacional e mundial da mais alta qualidade como teve da segunda metade da década de 70 até o final da década de 80.
- Por que o processo é interrompido no final da década de 80?
- No final dos anos 80 vem a derrocada. Com a eleição do Collor e o processo de redemocratização – que até hoje não foi completado, porque o Brasil só é democrático politicamente, com relação ao aspecto social e econômico ainda não somos um País democrático. O Collor não seqüestrou somente nossas poupanças, mas deu um golpe duríssimo em toda a sociedade. No caso do cinema, especificamente, ele extinguiu toda a legislação existente, destruiu a Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme) e o Conselho Nacional de Cinema. Diante disso, o movimento ficou pasmo, como toda a sociedade brasileira. Isso foi geral, todas as organizações envolvidas em movimentos sociais tiveram um refluxo nesse momento. E as pessoas se perguntavam: ‘Nós trouxemos esse homem aqui para quê?’. No movimento cineclubista esse processo durou quase 15 anos, só voltou a ser resgatado mais intensamente em 2003. Nesse período, alguns cineclubes conseguiram se manter, mais o movimento foi interrompido, foi destruído. Para nós foi um golpe comparado ao AI-5.
Foto: Divulgação |
Claudino, ao centro, durante a Conferência do México |
- Somente em 2003 se inicia esse processo de resgate do movimento cineclubista?
- Com o governo Lula, isso começa a ser retomado. Quero deixar claro, no entanto, que não sou petista. Na verdade, não sou de partido nenhum. Sou comunista mesmo, filosófica e ideologicamente. Hoje no Brasil não há nenhum partido que mereça o título de comunista. Mas com a chegada do governo Lula acontece o que já deveria ter ocorrido logo depois da Constituição de 1988. Mesmo antes de Lula, com o governo Fernando Henrique, não podemos dizer que não houve um avanço democrático importante. FHC estruturou o Ministério da Cultura, criou a Lei Rouanet de incentivo à cultura, a lei de incentivo ao cinema etc. Nessa época começa a ser retomada a produção do cinema brasileiro. Tudo isso representou, sem dúvida, um avanço, mas a coisa ainda não havia se consolidado. Não havia um compromisso, um estímulo ao movimento. Em 2003, por iniciativa de Leopoldo Nunes – que foi diretor da Ancine (Agência Nacional do Cinema) e chefe de gabinete do Ministério da Cultura, ex-cineclubista e que atualmente está na recém criada TV Brasil – aconteceu uma reunião no Ministério da Cultura. Nesse encontro, concluímos que a produção do cinema brasileiro estava avançando, a distribuição estava sendo discutida, mas faltava um elemento básico para o cinema brasileiro, que era justamente o movimento cineclubista. Houve então uma reunião com o ministro Gilberto Gil quando foram convocadas algumas lideranças históricas do movimento cineclubista brasileiro, inclusive o Claudino, do Espírito Santo. Nessa reunião fomos provocados para retomar o movimento. E como não se pode cutucar o diabo com vara curta, seis dias depois da reunião estávamos retomando a Jornada Nacional de Cineclubes. Dentro do Festival de Cinema de Brasília, reunimos as lideranças que já existiam e outras que surgiram. Criamos uma comissão de rearticulação do movimento cineclubista e acabei virando coordenador desse grupo. Essa comissão evoluiu, fizemos uma outra jornada, recriamos o Conselho Nacional de Cineclubes e desde então sou eleito presidente quase que caudilhamente. O fato de você ter um ministro como o Gil e um ministério cheio de cineclubistas foi fundamental para nós resgatarmos o movimento. A interlocução passou a ser muito mais fácil, porque agora falamos com colegas. Não há mais aquela trajetória estúpida e burocrática que emperrava os processos.
- Podemos afirmar hoje que o movimento cineclubista vive um momento positivo e está concluindo esse processo de consolidação?
- Eu acho que o movimento, no que se refere a esse processo de rearticulação, já está consolidado. A questão passou a ser o processo de reinstitucionalização. Nessa luta nós conseguimos a Agência Nacional do Cinema (Ancine) que até pouco tempo não existia. Para nossa sorte, o Leopoldo Nunes foi nomeado para dirigir a Ancine e capitaneou conosco uma luta nacional pela regulamentação do cinema brasileiro. Em 2007, fizemos uma audiência pública na Ancine e propusemos uma Instrução Normativa que entrou em consulta pública - inclusive esta foi a consulta pública da Agência mais voltada, cerca de 700 pessoas de todo o Brasil participaram - para reconhecer, regulamentar, definir e conceituar o movimento cineclubista brasileiro. Esse apoio maciço, esse reconhecimento nacional, mostrou que estávamos no caminho certo.
- Quais são agora os desafios da institucionalização?
- O primeiro ponto foi conquistar essa regulamentação oficial que reconhece e coloca formalmente no processo do cinema brasileiro o movimento cineclubista, que foi a Instrução Normativa 63, da Ancine. Paralelamente a isso, em 2004, fomos procurados pelo cineclubista e cineasta argentino, Juan Carlos Arch, que infelizmente faleceu no ano passado, que era secretário Latino-americano da Federação Internacional de Cineclubes. Curiosamente a Federação Internacional também passou, a exemplo do Brasil, por um processo de interrupção e também retomou o movimento somente em 2000. Na Jornada de São Paulo, Arch nos convidou para participar da Assembléia Geral da Federação Internacional de Cineclubes. Eu participei, como representante do Brasil, e nessa assembléia criamos o grupo Ibero-Americano. Fui nomeado coordenador desse grupo e na primeira eleição, todos os países membros, por unanimidade, me elegeram para a vice-presidência da Federação Internacional de Cineclubes.
- Como se explica esse reconhecimento internacional do cineclubismo brasileiro?
- Na verdade, o cineclubismo brasileiro sempre teve grande destaque internacional. Felipe Macedo, aquele que eu disse que me mandou o primeiro convite em 1977 para participar da Jornada Nacional de Campina Grande (PB), foi secretário Latino-Americano da Federação Internacional. O movimento cineclubista brasileiro sempre foi considerado um dos mais importantes do mundo. Quando cheguei nessa assembléia, fui ovacionado. Eu fiquei até espantado, porque ninguém sabia quem era o Claudino. Porque eu fui presidente várias vezes do Conselho Nacional, mas nunca tinha chegado à Federação Internacional, quem sempre era eleito era o Felipe Macedo, que inclusive, na minha opinião, é o cineclubista vivo mais importante na história do cineclubismo brasileiro. Mas eu realmente tomei um susto com tamanho assédio. Já queriam que eu fizesse conferências e etc. Como só falava português, foi um corre-corre danado para arrumar tradutor, enfim, foi uma loucura.
Foto: Divulgação |
Claudino exibe o catálogo CineSud |
- Desse encontro saiu o projeto para organizar a Conferência Internacional que aconteceu agora em fevereiro na Cidade do México?
- Quem propôs a Conferência Internacional foi o nosso grupo que é composto pelo México, Brasil, Argentina e Espanha (Catalunha). Na Assembléia Internacional de 2005, nós começamos a fazer a articulação para a conferência. Nós montamos uma difusora internacional de filmes, que é o Catálogo CineSud, através dele nós lançamos mais de 500 filmes do mundo inteiro por difusão livre. Enfim, esse grupo Ibero-Americano começou a romper barreiras. Chamamos então o grupo asiático para integrar esse movimento. Hoje, para você ter uma idéia, o grupo europeu é o mais fraco. A América Latina é a ponta de lança desse processo de trazer a diversidade para a Federação Internacional. Na atual gestão, o presidente é italiano, o vice é brasileiro, o tesoureiro é ucraniano e o secretário-geral é de Bangladesh. Isso nunca aconteceu antes, a comissão executiva sempre foi toda européia. O atual presidente da Federação Internacional, Paolo Minuto, que se considera mais latino do que italiano, tem feito um trabalho fantástico à frente da Federação. Ele roda o mundo inteiro para fortalecer o cineclubismo. Para você ter uma idéia de sua dedicação, Paolo esteve no meio da guerra da Sérvia, em Kosovo, organizando cineclubes.
- Na Conferência do México só deu Brasil.
- Foi uma coisa incrível. Eu e o Felipe Macedo fomos conferencistas de três mesas, isso mostrou a força do cineclubismo brasileiro. Lá nós percebemos o interesse da imprensa internacional e dos participantes de várias partes do mundo no nosso trabalho. O foco estava no Brasil. Nós tentamos até transferir esse foco para o México que estava sediando o evento, porque para o México esse impulso era muito importante, eles estão passando por um processo de rearticulação semelhante ao que passamos em 2005.
- Fale um pouco sobre o tema da mesa “Cineclubismo e Educação”, parece que esse tema teve grande repercussão na Conferência?
- Essa mesa, em especial, teve uma repercussão fantástica. Eu recebo até hoje correspondências de pesquisadores me consultando sobre o tema, pedindo material para desenvolver teses acadêmicas com esse foco. Alguns países também têm nos consultado com interesse de replicar o projeto. A base desse projeto foi construída a partir do trabalho que iniciamos na década de 80 com a Ufes, Embrafilme, Funarte e com o Departamento Estadual de Cultura. Esse projeto se chamava ‘Cinema, Escola e Comunidade’. Nós desenvolvemos essa ação em cerca de vinte municípios capixabas e dez bairros da periferia de Vitória. Esse projeto previa trabalhar cineclubismo com as escolas para fazer um link desse processo com a comunidade, rompendo o muro que existia entre escola-comunidade através do cinema. Com a retomada do movimento, o Espírito Santo mais uma vez saiu na frente e criou a primeira Associação Municipal de Cineclubes de Vila Velha. Esse trabalho desenvolvido hoje pela Associação envolve doze escolas da periferia de Vila Velha. Esse projeto atual, calcado no projeto deflagrado na década de 80, promoveu um importante avanço, porque ele vai muito além dessa proposta inicial de romper com a barreira escola-comunidade. O eixo central do projeto é preparar esses alunos do ensino fundamental para se tornarem cineclubistas e a organizarem seus próprios cineclubes. Esse eixo central puxa para o Escola Aberta, que tem o objetivo de trabalhar o cineclube junto à comunidade que a escola está inserida. Um outro aspecto fundamental do projeto é capacitar os professores para o uso do cinema dentro da sala de aula como parte do currículo. Fora isso, nós promovemos cursos nas escolas, junto com os realizadores capixabas, para ensinar alunos e professores a produzirem filmes. A idéia é quebrar com esse mito, pregado pela Rede Globo e por Hollywood, de que o cinema é algo inalcançável. Você passa a usar o cinema como uma ferramenta de inclusão social. Essas crianças passam a discutir e documentar a realidade vivida por elas. Esse projeto já produziu seis filmes, inclusive dois deles foram premiados em festivais de curta do Espírito Santo e de São Paulo. Isso só está sendo possível graças à visão cultural do secretário de Educação de Vila Velha, Roberto Beling, que inclusive é ex-cineclubista. Ele percebeu a importância do projeto e decidiu apoiá-lo. Esse acabou sendo o foco da discussão da Conferência do México.
- Quer dizer que todas essas ações estão ajudando a consolidar esse processo de institucionalizar o cineclubismo no Brasil?
- Estamos nesse processo. Como eu já disse, o primeiro passo importante foi o reconhecimento da Ancine, atualmente eu estou organizando também um censo de cineclubes em todo o mundo, mas isso não basta...
- Hoje nós temos quantos cineclubes funcionando no Brasil?
- Mapeados pelo Conselho Nacional temos 450, destes, 150 estão filiados ao Conselho. O trabalho de organizar cineclubes em um país do tamanho do Brasil não é nada fácil, além das distâncias, cada estado brasileiro é praticamente um país.
- Qual é o caminho para uma pessoa montar hoje um cineclube no Brasil?
- Primeiro ela precisa se juntar com mais algumas pessoas interessadas no tema, depois visitar o site www.cineclubes.org.br, nesse endereço ela vai encontrar todo o passo a passo para organizar um cineclube. Em seguida, ela deve fazer contato conosco. Mas voltando à institucionalização, eu dizia que isso que conseguimos conquistar até agora ainda não é o bastante. Nós queremos ser reconhecidos por uma lei voltada pelo Congresso Nacional, que esclareça que nós organizamos o público em torno do audiovisual para acabar com a dependência nacional desse processo hegemônico imposto por Hollywood. Nosso papel é de cidadania, de soberania nacional. É por isso que somos considerados uma ameaça para a Movie Pictures. Não é por acaso que a Movie Pictures vivia invadindo os cineclubes ou a Europa Cine processou o Falcatrua (cineclube de Vitória). Os cineclubes são os espaços mais agredidos pelas grandes corporações.
Foto: José Rabelo |
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- Já rompemos a produção, mas agora falta romper a exibição e distribuição do cinema no Brasil. O Brasil produz hoje cerca de 70 a 80 longas por ano. Quantos filmes brasileiros você vê chegando ao cinema? Dois, três. Quanto tempo eles ficam em exibição? Uma semana no máximo.
- Dependendo do estado não chega, a população só tem acesso através das mostras, festivais e dos cineclubes.
- As mostras e festivais são pontuais, acontecem uma vez por ano, a única alternativa sistemática e organizada de exibição são justamente os cineclubes. Se você consultar as estatísticas vai perceber que a população brasileira não assiste a um filme por ano; 92% das cidades brasileiras não têm uma única sala de cinema; cerca de 60% dos jovens brasileiros, na faixa etária entre 15 e 20 anos, nunca viu um filme, a não ser o que a TV Globo exibe. Isso significa destruir uma nação. Eu estou falando de conceito de nação, que se constrói culturalmente. Nós estamos destruindo uma juventude inteira. O movimento cineclubistas não está aí só para ficar exibindo filmes. Não estamos de brincadeira, temos um propósito claro: organizar o povo brasileiro em torno do audiovisual, romper com o monopólio da distribuição e exibição e garantir um acesso livre e gratuito para todos os cidadãos. Isto está na carta de Direitos Humanos que está completando 70 anos em 2008, está na Constituição de 88, na Carta dos Direitos do Público, que o movimento cineclubista criou em 1987, na extinta Tchecoslováquia. Nós estamos aqui para garantir o direito do público, inclusive lançamos este mês uma campanha mundial no Brasil pelos ‘Direitos do Público’. A idéia é construir uma legislação que garanta o direito a todo o cidadão brasileiro de ter acesso a todo e qualquer conteúdo audiovisual autorizado a circular no País, além disso, queremos garantir que todo o movimento cineclubista do Brasil, as escolas, as cinematecas, sejam autorizadas a exibir, sem pedir licença a ninguém, todo o produto audiovisual que entrar no País. Isso é muito justo, porque não temos fins lucrativos e não competimos no mercado de exibição com ninguém. Não podemos permitir que o cidadão brasileiro continue refém da concentração de poder na área do audiovisual, que é dominada por um bairro de Los Angeles chamado Hollywood. Esse domínio não acontece somente no Brasil, eu rodo o mundo e posso falar. Isto acontece também na França, na Inglaterra e em diversos países. Hoje, esse domínio só não está presente na Índia e na Coréia, que romperam de vez com esse modelo hegemônico imposto por Hollywood. Se a nossa briga no Brasil é transformar a democratização do acesso ao audiovisual em lei, no mundo, o desafio da Federação Internacional é tirar essa prerrogativa da Federação do Comércio e transferir para a Unesco a discussão dos bens culturais. Bem cultural não pode ser objeto de mercado. Um filme após quatro ou cinco anos, depois que ele já passou pela telona, telinha e se transformou em DVD na locadora, não tem mais fim comercial algum. Então porque o povo não pode ter acesso? Simplesmente pelo controle ideológico que existe. E com isso que queremos romper. Eu sei que a briga não vai ser fácil para construir e aprovar essa lei no Congresso Nacional, que mexe com tantos interesses econômicos. É claro que a Rede Globo, que atende aos interesses da Movie Pictures, vai dar porrada na gente, mas eu já estou acostumado a levar porrada. Sobrevivi à ditadura e não é agora em plena democracia que eu vou me acovardar. Vamos em frente.
2 comentários:
É esse espirito de luta e coragem que nos mantém na luta!
Parabéns
Maravilha de entrevista e de pessoa. Obrigada por sua militância, perceverancia e compromisso. tive oportunidade de tb entrevistar voce para a pesquisa da cadeia do audiovisual capixaba. espero tb contribuir um pouco para este movimento de vanguarda da soberania nacional!
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