Cineclube Lanterninha Aurélio
Filiado ao CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
Projeto Cultural CESMA -Santa Maria/RS - desde 1978
Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria
Ciclo Copy, Right?
Pra encerrar esse turbulento e acelerado 2009, o Cineclube Lanterninha Aurélio, em parceria com o BaixaCultura.org, propõe um ciclo sobre um tema que gradativamente vem saindo do nicho dos especialistas para adentrar aos lares (e pcs) de toda a sociedade mundial: a "pirataria" digital.
Falar em "pirataria" digital hoje em dia é, necessariamente, falar sobre cópia, e falar de cópia no contexto atual é falar também de internet, cibercultura, autoria, direito autoral, cultura livre, remix, dentre outras diversas questões que são puxadas para dentro do mesmo caldeirão de debate e fermentadas por pontos de vistas que inclui ideologias, previsões - catastróficas ou utópicas - e, acima de tudo, questionamentos sobre a sobrevivência de uma das indústrias mais poderosas que se estabeleceu no nosso recém findado século XX - a indústria do entretenimento.
A lógica industrial da cultura [a lógica cultural dominante ao longo do século 20] se baseia num esquema feroz de controle autoral (o copyright), mais ou menos feroz a depender do volume de dinheiro envolvido. Quando a tecnologia digital torna extremamente difícil esse controle, e aos lucros cada vez menores da indústria se equipara uma produção cultural descentralizada, diversificada e auto-gerenciada; quando a reação da indústria é uma dispendiosa campanha “contra a pirataria”, por vezes redundando em leis que já nascem mortas e atitudes como processar os próprios consumidores dos produtos que vendem, é aí que se pensa que algumas mudanças nestes costumes e leis se fazem (muito) necessárias, a fim de que elas pelo menos possam acompanhar – e não travar - o desenvolvimento tecnológico (e o consequente cultural) da sociedade.
É neste cenário de constante transformação que se insere a discussão que propõe os filmes a serem exibidos no Cineclube Lanterninha Aurélio neste mês. O ciclo "Copy, right?" apresenta quatro recentes documentários, todos produzidos nesta primeira década do segundo milênio, que tratam questões como “pirataria” digital, cópia, direito autoral, cultura livre, remix e novas formas de distribuição (e comercialização) da música, cada um sob um ponto de vista e trazendo seus próprios exemplos, que vão desde a milagrosa indústria de cinema nigeriana – a que atualmente mais filmes produz no planeta, a frente de Hollywood e Bollywood, na Índia – até o site sueco de busca de arquivos torrents Pirate Bay, passando ainda pela cena tecnobrega de Belém do Pará e por trabalhos de djs que usam e abusam de remix de outras músicas.
O ciclo começa na quarta feira dia 9 de dezembro com “Cópia Boa, Cópia Má”, auto-referenciado como um “documentário sobre o estado atual do copyright e da cultura”, dirigido e produzido pelos dinamarqueses Andreas Johnsen, Ralf Chistensen e Henrik Moltke. Lançado em 2007, o filme, com duração de 59 minutos, levanta questões delicadas relativas aos copyrights e a propriedade intelectual, trazendo interpretações tanto do ponto de vista dos entusiastas da cultura do remix quanto dos defensores da manutenção do status quo dos direitos autorais. Alguns dos entrevistados pelos cineastas dinamarqueses são o DJ e produtor musical Girl Talk, Dr. Lawrence Ferrara, diretor do departamento de música da Universidade de Nova Iorque, Lawrence Lessig, autor do livro Cultura Livre e criador do Creative Commons, Charles Igwe, produtor cinematográfico de Lagos, Nigéria, Dan Glickmann, representante da Motion Picture Association of America (MPAA),e os brasileiros Rolando Lemos, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas, e DJ Dinho Tupinambá, um dos mais conhecidos personagens do tecnobrega do Pará. A questão central do filme pode ser resumida na busca pelo difícil equilíbrio entre a proteção de alguns direitos dos ditos autores de obras intelectuais e o direito das gerações futuras de poder criar livremente a partir do que já foi produzido nos muitos milhares de anos em que o homem habita este planeta.
Na segunda exibição do ciclo (23/12) serão exibidos "Roube este Filme I" e "Roube Este Filme II", ambos produzidos pela misteriosa The League of Noble Peers e finalizados em 2006 e 2007, respectivamente. O primeiro documentário, de 32 minutos, é centrado no caso do Pirate Bay, um dos ícones da chamada “pirataria” digital; o segundo, com duração de 44 minutos, vai mais além e busca entender questões tecnológicas e culturais que estão por trás da chamada “copyright wars”, além de discutir algumas transformações culturais e tecnológicas em andamento com o advento da internet.
Por fim, na quarta feira dia 30, antevéspera do reveillon, será exibido o brasileiro "Brega S/A", documentário dirigido por Vladimir Cunha e Gustavo Godinho, finalizado em setembro deste ano. O filme, único brasileiro da amostra, trata da surpreendente cena tecnobrega de Belém do Pará, um fenômeno cultural que nos últimos tempos tem atraído a atenção mundial por conta de sua inovadora estratégia de comercialização, onde a pirataria entra como mais um elemento parceiro na circulação do que um "inimigo" a ser eliminado.
Como os filmes a serem exibidos e o próprio nome do ciclo sugerem, a ideia que percorre esta amostra é a da cópia livre, do livre compartilhamento de informação e de ideias. Todos os documentários estão disponíveis gratuitamente na rede, e alguns deles – caso dos exibidos no primeiro e no segundo dia do ciclo – incentivam a exibição/reprodução e até remixagem de seus conteúdos. Eles partem do princípio que a criação intelectual se defende ao compartilhar, algo que vem a calhar com outra ideia, trazida pelo notório coletivo italiano Wu Ming, de que obras intelectuais não devem ser apenas produtos do intelecto, mas produtoras de intelecto.
Leonardo Foletto,
Baixacultura.org
Ciclo Copy, right?
9/12 - Cópia Boa, Cópia Má (Dinamarca, 2007, 59 min)
23/12 – Roube Este Filme I (Reino Unido/Alemanha, 2006, 32 min)
Roube Este Filme II (Reino Unido/Alemanha, 2007, 44 min)
30/12 – Brega S/A (Brasil, 2009, 60 min)
Cineclubismo
Debates e sessões - quartas-feiras - 19 horas - entrada franca
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