No mês do carnaval o Cineclube Lanterninha Aurélio presta homenagem ao ritmo símbolo de Brasil e patrimônio nacional. O samba, gênero que vai das raízes africanas ao rock, passando pela bossa nova e MPB nasceu nas casas das “tias baianas” no século 19. De música marginalizada e reprimida pela policia, o samba, juntamente, com a arte, o candomblé e a culinária africana, até então ignoradas por boa parte da elite intelectual brasileira, passaram a ser signos de brasilidade a partir dos anos 20 e 30. É o país moderno de Vargas encantado (e que inventou) a cultura popular brasileira.
O cinema produzido na “terra do samba” sempre homenageou o estilo e seus ícones e é com um deles que o Cineclube Lanterninha Aurélio inicia o ciclo “Com que roupa?”. No dia 4 iremos exibir “Cartola - Música para os olhos” (2007). O documentário narra a história de Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, um dos maiores compositores de música brasileira, autor de clássicos como “O mundo é um moinho”. O filme é um verdadeiro passeio pela história do samba através de seus principais expoentes.
De um ícone da Estação Primeira da Mangueira passamos para um da Portela. No dia 11 nos deparamos com “Paulinho da Viola - Meu tempo é hoje” (2003). Com um tom intimista, o documentário traz um retrato do cantor, compositor e instrumentista através de seus depoimentos sobre os amigos, os mestres e as influências musicais. É num ritmo mais lento que ele mostra sua rotina, seus hábitos. É o samba contado a partir da biografia de quem canta o verso “Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado”.
No dia 18 trazemos dois curtas do Acervo Programadora Brasil, programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, desenvolvido por meio da Cinemateca Brasileira e do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv) que busca circular diversas produções brasileiras. Além do mais, teremos uma apresentação ao final da exibição, do conjunto de samba e choro “Velhos Seresteiros”, tradicional na cidade de Santa Maria - RS. Os dois curtas retratam personagens reais da história do samba de modo ficcional. O primeiro, “Alma Carioca - Um choro de menino” (2002) é o encontro de um menino com Donga, Pixinguinha e João da Baiana, grandes mestres da música popular brasileira. Já o segundo curta e que leva o titulo do nosso ciclo retrata um dia da vida de Noel Rosa, o compositor do samba “Com que roupa?”.
Pra encerrar o mês da folia colocamos na roda o filme “O mistério do Samba” (2008). A partir da pesquisa da cantora e compositora Marisa Monte nasceu o filme que busca resgatar as músicas, os personagens e as histórias da Velha Guarda da Portela. É o encontro, regado à cerveja, de uma nova geração do samba com um grupo de artistas veteranos e com as “tias baianas” que não perdem a malemolência.
O samba, música considerada como o que no Brasil existe de mais brasileiro é só mais dos muitos mistérios que encontramos no país. É a história descontinua de um ritmo dos morros cariocas e das “camadas populares” e que se tornou o símbolo do Carnaval, da valorização das coisas mestiças, do nascimento de uma identidade nacional. É em torno dessa “tradição inventada” que o ciclo desse mês procura alicerce. É o cinema que diz: “Eu sou o samba”. É o samba que diz: “Eu sou o cinema”.
Francine Nunes da Silva
Socióloga
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